sexta-feira, 4 de maio de 2007

Pedofilia agride ser humano

por Rodrigo Herrero

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) existe para protegê-los, a sociedade reprova os atos contrários, as pessoas possuem discursos longos e severos contra a prática de pedofilia.
Mesmo assim, a cada dia que passa o número de casos registrados eleva-se e crianças e adolescentes se perdem em meio aos abusos cometidos pelos adultos.

A pedofilia refere-se à atração sexual de crianças e adolescentes. A classificação internacional das doenças classifica a pedofilia como um dos transtornos de preferência sexual e uma doença quase que exclusiva dos homens. O indivíduo deve ter mais de 16 e ser cinco anos mais velho que sua vítima para se caracterizar o caso.

Para se ter uma idéia, desde 1997 a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção a Infância e à Adolescência (Abrapia) possui desde 1997 um telefone para denúncias sobre violência sexual contra crianças e adolescentes, através do número 0800-99-0500. Entre fevereiro daquele ano e o mesmo mês de 2003, foram registradas 55.706 ligações, com 5.070 definindo-se como denúncias corretas. Desse total, 63% consistem em abuso sexual e 37% em exploração sexual. No caso do abuso, 40% acontecia fora da família, mas 60% verificou-se dentro da família (pai, padrasto, tio).

Para entender a pedofilia é necessário compreendê-la sob vários pontos de vista, desde o agressor até o da vítima, passando pela família, que muitas vezes se omite nesses casos e vai contra a criança que sofre o abuso sexual.
Com esse objetivo entrevistamos a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, que vai esmiuçar em detalhes o que acontece com a pessoa violentada e as conseqüências disso em seu desenvolvimento. Ela também explica se há relação de um pedófilo com sua infância e dá um recado a quem já foi vítima disso. Confira os principais trechos da conversa feita por email.

Site Padre Marcelo Rossi – O que leva uma pessoa a abusar sexualmente de uma criança/adolescente?

Dra. Olga Tessari: As explicações para este tipo de comportamento são várias: pode ser uma pessoa que apresenta uma dificuldade em relacionar-se sexualmente com adultos, que se sente insegura e ansiosa diante desta situação e que, na relação com as crianças sente que tem o controle e o poder em suas mãos. Muitas vezes, a figura da criança tem um valor emocional muito grande para o agressor e ela satisfaz algumas de suas necessidades psicológicas, como por exemplo, sua imaturidade emocional, sua baixa auto-estima, seu desejo de ter o controle sobre suas mãos, etc...

Site Pe. Marcelo – O fato de um adulto vir a cometer isso pode ter ligação a algum trauma quando criança?

Dra. Tessari: Alguns pedófilos foram vítimas de abuso sexual em sua infância e aprenderam, erroneamente, que este tipo de comportamento traz prazer para o adulto. Então, quando eles se tornam adultos, eles supõem que seu prazer sexual será maior e mais intenso se mantiverem relações com uma criança.

Site Pe. Marcelo – Por outro lado, a pessoa que sofre isso na infância pode vir a ser um pedófilo na maioridade?

Dra. Tessari: Nem toda pessoa que sofreu de abuso sexual na infância torna-se um pedófilo na idade adulta. Pelo contrário, na maioria dos casos, crianças que sofrem abuso sexual e não tem seu desenvolvimento sexual de forma natural e saudável são adultos com muitas dificuldades em manter relações sexuais ou mesmo de confiar nas pessoas de uma forma geral, tornando-se pessoas inseguras e muito ansiosas, sempre fugindo de situações onde possam estar a sós com alguém do sexo oposto.

Site Pe. Marcelo Rossi – E quando esse abuso ocorre dentro de casa, por um padrasto, tio, pai, etc?
Dra. Tessari: É muito comum a mãe não acreditar que o seu marido seja um pedófilo e incutir a culpa do ato do marido na criança, como se ela houvesse provocado este adulto para o ato sexual. Em geral, quem denuncia o pedófilo é um vizinho ou um amigo que percebe o comportamento estranho da criança.

Site Pe. Marcelo – Há alguma forma de perceber isso?

Dra. Tessari: É importante estar atento ao comportamento da criança diante de seu pai, tio, etc. Se ela evita de ficar perto desses homens ou mesmo tem uma expressão de medo diante deles, deve-se ficar atento e tentar fazer o flagrante quando pai e filha estiverem a sós. Muitas vezes a criança começa a chorar quando a mãe vai sair, implora que ela fique em casa, tem um comportamento desesperado quando percebe que vai ficar sozinha com o homem.

Site Pe. Marcelo – É possível superar tal trauma?

Dra. Tessari: É difícil porque, se a criança não pode confiar em seus pais, vai confiar em quem? Mas o tratamento psicológico é fundamental e na medida em que ele avança, a criança/adolescente vai superando este trauma e consegue chegar a ter uma vida normal. É importante que o tratamento seja feito até o final, mesmo que seja longo.

Site Pe. Marcelo – Qual recado que você pode dar a uma adolescente que tenha sofrido abuso sexual?

Dra. Tessari: Não tenha medo de denunciar a pessoa que abusou sexualmente de você, ela é uma pessoa doente e precisa de tratamento e você é a vítima, embora sua família possa dizer o contrário, que você é a culpada de ter seduzido a pessoa! Você vai passar por maus momentos a princípio, mas no final, vai agradecer a si mesma por se livrar do fardo de se sujeitar aos caprichos de uma pessoa insana.
http://ajudaemocional.tripod.com/rep/id103.html

0 comentários: