quarta-feira, 12 de novembro de 2008

As máquinas que "excitavam" mulheres

Em meados de 1875, a revista "Medical Records", uma das mais reputadas publicações científicas da época, no mundo, publicou dois artigos que criaram enorme polêmica na Europa e nos Estados Unidos e também repercutiram no Brasil, reproduzidos e comentados pela "Gazeta Médica da Bahia" dentre outros veículos especializados. O assunto também chegou à grande imprensa como notas de rodapé e imagino deve ter tirado o sono de muito marido ciumento e quem sabe tenha comprometido a venda de máquinas de costura, coqueluche da época. O primeiro artigo, assinado pelo Dr. Guibort, condenava o uso das máquinas inventadas por Isaac Singer (1851) que naquele ano de 1875 não mais era patente exclusiva da Singer, mas também fabricadas pela Welson, Grover, Wuicox., Gritzner e Baker.

O médico americano afirmava com todas as letras que a amenorréia, que vem a ser a interrupção do ciclo menstrual das mulheres, tinha como uma das causas (e escreveu isso no magazine) o uso continuo das máquinas de costura a pedal que chamou de anti-higiênicas. No mesmo artigo sugeria que a leucorreia, o popular corrimento, poderia também ser provocado pelo mesmo equipamento. O artigo repercutiu logo, dada a popularidade das máquinas de costura, invento que tinha aposentado definitivamente os teares e outros instrumentos primitivos de fiação que sangravam os dedos.

Atrito nas coxas
O "Medical Records" se viu, então, na contingência de se posicionar, emitindo um parecer oficial. E aí a emenda ficou pior do que o soneto. A revista em editorial condenava o estudo do Dr. Guibort, dizia que o equipamento não era anti-higiênico coisa nenhuma, mas deveria ser proibido, ou seu uso regulamentado, já que provocava tesão nas mulheres. Argumentação esta fundamentada numa pesquisa de opinião realizada com donas de casa onde as mesmas afirmavam que o continuo atrito das coxas ao pedalar produzia-lhes uma excitação fora do comum. Era "muito gostoso", segundo algumas depoentes. O "Medical Records" condenou as máquinas de costura que chamou de imorais, nesse contexto de rígida moral vitoriana, então, vigente.

Na Bahia, onde as mulheres naquele tempo tinham o biótipo de cadeiras largas e coxas grossas (imaginem o atrito!) conseqüência dos hábitos sedentários e do uso exagerado de alimentos gordurosos, a repercussão dos artigos reproduzidos na mídia local mexeu com os brios dos maridos ciumentos, a essas alturas muito preocupados com o quase adultério de suas esposas. Sorte deles que a "Gazeta Médica" e mesmo os jornais diários eram lidos quase que exclusivamente por homens. Mesmo assim alguns "puniram" as suas queridas esposas proibindo-lhes de usar o pecaminoso objeto, que cá entre nós ainda não era um produto popular. Máquinas de costura eram vendidas nas lojas de importados a um preço exorbitante já que a queda de patentes era ainda recente, 1873, por tanto dois anos antes do episódio aqui relatado.
Imaginário feminino

O assunto rendeu algumas semanas e enquanto os brasileiros ardilosamente procuravam evitar que as máquinas de costura anunciadas nos jornais como um objeto imprescindível para o lar não fossem utilizados, os americanos mais pragmáticos, sugeriam aos fabricantes que usassem outra força motriz que não os pedais. A polêmica esgotou-se por despropositada e as máquinas de costura continuaram a ser anunciadas com a mesma freqüência de mídia e apelos de venda e, quem sabe, depois da exposição pública, povoando o imaginário feminino.

fonte:portal imprensa

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