sábado, 15 de novembro de 2008

Caminhos e descaminhos na família

Palavras de um padre.

Cansado de dizer os mesmos chavões nas cerimônias de casamento, resolvi ser mais cândido com os noivos.
Assim, procurei preparar uma mensagem que segurasse a atenção de todos presentes. Não sei se consegui, mas dei alguns conselhos meio bombásticos

1. Não acreditem em nenhuma receita de um casamento feliz.
A vida não tem receita. Somos por demais complexos, exageradamente contraditórios.
Nenhuma lei, nenhuma lista de princípios,nenhum código ético e moral e nenhuma cultura seriam largos e abrangentes para nos conter.
Todos terão que enfrentar seus desafios e eles serão únicos; ninguém jamais encarou o que alguém enfrentará, porque cada um é especial
Um universo mora dentro de você.
2. Não acreditem em amor eterno.
Todos nós somos passionais, vivemos com nossas emoções feito gangorras, nossos sentimentos mudam demais. Paixão arrefece, querer bem atrofia e o amor morre.
Vinicius, meu querido Poetinha, com seu "Soneto de Fidelidade", não tentou mostrar a inconstância do amor, mas a necessidade diária que temos de nutrir, cuidar, zelar dele.
3. Não acreditem em milagres, eles não acontecem.
Os processos de maturidade não requerem milagres, apenas humildade.
Aprender a se relacionar com o próximo, não exigirá milagre, mas sim grandeza, simplicidade, compreensão.
4. Não acredite que o amor nos torna compreensivos.
O amor não torna as pessoas automaticamente compreensivas. Por isso existem os diálogos. Cada um precisa gastar tempo explicando; é preciso disposição para “perder” tempo, ouvindo.
Temos razões que, num primeiro instante, parecem absurdas. Mas depois que conversamos elas acabam lógicas, coerentes.
Dois monólogos não fazem um diálogo.
Por mais que a gente ame, precisamos aprender as razões do outro.
5. Não acredite em felicidade, ela não existe.
Felicidade acontece, mas não existe, porque não é uma entidade que possua as pessoas. Felicidade não tem contornos, não tem espessura, ela não possui consistência.
Felicidade acontece nos distraídos, nos que buscam ser pessoas integradas, humanas, solidárias, carinhosas, boas, misericordiosas e justas.
6. Não acreditem na segurança do futuro.
O passado está calcinado, o presente é fugaz e o futuro permanece incerto.
Acreditem: todos vão precisar de alguém- ou do Grande Alguém.
Na vida reserva muitas alegrias, algumas indizíveis, mas chegam também a monotonia, a mesmice chata. Um dia porém, desaba a tristeza, com seu espanto e horror.
7. Não acreditem na permanência dos amigos, eles desaparecem.
Quando olho para fotos de casamento, gosto de procurar rostos conhecidos. Porém, constato, abatido, que muitos amigos antigos, desapareceram.
As pessoas se mudam, outros criam círculos de amizade distintos, e alguns morrem e ficamos muito sozinhos.
8. Não acreditem nos seus familiares, principalmente no papai e na mamãe.
Conheço vários casamentos que naufragaram porque tem um irmão bicão que vive a dar conselhos (ou a pedir dinheiro).
Muitas vezes, a mãe e o pai não largam dos filhos; contudo, é necessário que cada nova família lute para gerar uma nova entidade.
A casa de cada um pode se inspirar no que aprendeu em seu lar de berço, mas ela não precisa tentar ser uma cópia. A família não tem que reproduzir as alegrias, ou mazelas, dos anos vividos debaixo do teto dos pais.
9. Não acredite na força do sexo, ela arrefecerá.
A erotização do casal é tarefa complicada. Saber os movimentos, procurar os apetites, ter a delicadeza para não ferir, buscar a felicidade do outro, é estranhamente complicado.
Por isso sexo não é técnica, mas cumplicidade; não é receita, mas intimidade; não é mecânica, mas uma jornada.
A explosão da libido precisa ceder à delicada intuição dos desejos. E isso leva anos, numa profunda e doce jornada.
10. Não acreditem em vocês mesmos.
Todas as pessoas são um complicado tablado de xadrez. Quantas vezes eu me surpreendo comigo mesmo.
Sou imprevisível até para mim. Assusto-me quando ajo com doçura e perco minha tolerância; sou um enigma a ser descoberto todos os dias. Por isso, nunca rotule ninguém, jamais acredite que você pode antecipar a próxima ação de quem acha que conhece.
Somos uma oficina de onde saem as mais belas poesias e as mais macabras perversões. De nosso peito brotam homicídios, mas também florescem belos jardins.
Precisamos da graça de Deus para termos liberdade de crescer e precisamos de sua misericórdia para tentar mais uma vez. Do nosso próximo, carecemos de sua longanimidade.
Minha prece é que a paz de Deus repouse sobre seu telhado.

Por: Pr. Ricardo Gondim

1 comentários:

Alexandre Brendim disse...

A pergunta que não quer calar...

O noivos casaram?????????